Matrix #1
Outono de 1991

Ao final da década de 1980 e adentrando 1990, eu, Gazy Andraus, juntei-me a outros amantes de quadrinhos e fanzines quando tivemos a ideia de elaborar um fanzine mais ousado (para nós, claro, pois jovens sem dinheiro, mas imbuídos de espírito artístico).

Após várias reuniões para darmos conta da elaboração das HQs e artes à ideia de um novo zine coletivo, fomos pensando no título. Surgiram alguns, como “Nox”, e ao fim, chegou-se a um consenso como “Matrix”. A trupe foi representada na primeira história em quadrinhos que abre o zine com uma HQ metalinguística em que aparecíamos como personagens. Éramos, Gazy Andraus, Edison Izuka (o pivô da ideia do zine), Alexandre Jubran, Joel Cardoso, Carlos Morgani Filho, Chico Casério e então à época, o jovem Sam Hart.

As reuniões aconteciam nas dependências da FAAP em SP e após vários ensaios, o primeiro número foi lançado em formato “revista” (mas em realidade, tínhamos consciência de que era um fanzinão ou revistazine[1]). Havia também colaborações de Cariello, Rodrigo Arco e Flexa, Priscila Farias, Werner Krapf e outros (veja os nomes de todos na página 10).

Havia textos variados sobre ciência e mangá e até HQs poéticas e entrevistas, como a de Laerte naquele primeiro número. Depois, o fanzine nos surpreendeu ao ser contemplado com os prêmios de Melhor Fanzine no Troféu HQ-MIX em São Paulo, SP e também na 1ª Bienal Internacional de HQ, no Rio de Janeiro, RJ, ambos em 1991.

É assim que neste resgate histórico em pdf do primeiro número do Matrix - escaneado por mim pelo app CamScanner - pode-se contemplar duas versões de capas (cuja arte é de Cariello): a primeira em pb e ilustração de Jubran no verso dela, bem como de Morgani na quarta capa. E como uma segunda versão melhor finalizada do zine, seu logo “Matrix” já aparece em vermelho e também há publicidade da Banca Tiragem Limitada na 2ª capa, e de uma escola de cursinho na 4ª capa (mas, infelizmente, com a supressão das artes de Jubran e Morgani – motivo pelo qual achei necessário manter as duas versões de capas aqui no pdf, como registro histórico).

Com a verba pela premiação da bienal, houve então, a possibilidade do grupo em lançar a Matrix #2.

 

Matrix #2
Inverno de 1992

Graças à verba recebida da premiação da Matrix #1 dada pela 1ª Bienal Internacional de HQ, no Rio de Janeiro, RJ (lembrando que nosso fanzine empatou com outro cujo título não me lembro, tendo ambos recebido metade do prêmio), conseguimos elaborar um segundo número do fanzine (zine, revista-fanzine, fanzinão, etc.) Matrix, mantendo a coerência.

A capa deste segundo número, afinal, veio em 4 cores com arte de Jubran e mais 3 publicidades nas 2ª, 3ª e 4ª capas. A trupe principal se mantinha com os mesmos Edison Izuka, Gazy Andraus, Alexandre Jubran, Joel Cardoso, Carlos Morgani Filho, Sam Hart e com alguma alteração no Conselho Editorial, entrando Cariello no lugar de Chico Casério (mas este ainda como colaborador junto de outros nomes – veja à página 7).

De novo, várias HQs, dentre algumas diferentes – incluindo uma de Cariello que tem um tom poético e entremeou-se continuamente entre as páginas das HQs do fanzine e outra HQ de Izuka e Sam Hart que mescla colagens aos desenhos! Na “galeria”, Márcio Nicolosi e na entrevista, o artista da DC Comics Eduardo Barreto que esteve também na Bienal do Rio, onde foi entrevistado. Também há textos como os de Douglas Quintas Reis e Rosane Pavam. Detalhe para um relevante reconhecimento histórico: Joel Cardoso, participante do zine, foi sócio de Carlos Rodrigues (editor atual da Criativo), à época em que estavam à frente da famosa banca paulistana Tiragem Limitada, que está em evidência nas publicidades de ambos os números da Matrix!

Por fim, estes importantes registros históricos fazem jus à essencial editora virtual Marca de Fantasia de Henrique Magalhães que tem nesta sua editora alternativa, um monumento que valoriza as histórias em quadrinhos e os fanzines, funcionando igualmente como uma fanzinoteca e gibiteca digital que mantém importantes registros da área e que podem, em sua maioria, serem acessados gratuitamente.

Eu também vi esta necessidade de resgatar este fanzine, não só porque nele participei coorganizando-o, mas por ele ter sido elaborado na época em que os fanzines de quadrinhos eram o esteio e a força pungente de publicação de quadrinhos amadores/profissionais no Brasil, dadas as dificuldades daquele período aos quadrinhistas brasileiros! Eu até já apresentei um paper sobre a questão, que seja “Fanzines brasileiros do final do século XX: a redenção com as publicações nacionais das histórias em quadrinhos” na Cyberjornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos de 2020 realizada virtualmente. Quem quiser saber mais, pode consultar meu ppoint imagético da apresentação inteiramente aqui: http://classichqs.blogspot.com/2020/10/fanzines-brasileiros-do-final-do-seculo.html.

É assim que estes 2 pdfs são um resgate importante e histórico da HQB e do Fanzinato Nacional: juntam autores amadores com profissionais (hoje seria a Matrix talvez considerada um semi prozine, por isto). Um detalhe: no final da Matrix #2 anunciou-se a pretensão de um terceiro número a continuar o título! Realmente, até tentamos. Mas o grupo foi se dissolvendo – eu finalizei a faculdade de artes e fomos nos vendo cada vez menos. E, como a maioria dos fanzines, confirmou que a aperiodicidade e continuidade é um traço irrelevante! Mas ficou a Matrix na história da HQB e do Fanzinato nacional, ao menos, e tendo nela nomes que depois se tornaram afamados, como os de Cariello, Jubran e Sam Hart, dentre outros!

Ah, agradeço a Gustavo Pinho que, por email, fez-me eclodir esta ideia de escanear ambos os zines, quando meses atrás ele me perguntou como conseguir ler/ver o fanzine Matrix #1!
E agradeço a Henrique Magalhães, novamente, por ter este espaço que se abre e valoriza a área quadrinhística e fanzineira do país! [2]

Gazy Andraus [3], 01 e 02/agosto/2022

Notas

1. Na verdade, a Matrix foi mesmo um zine (ou fanzine) de HQs. Fiz esta brincadeira, porque era mais raro ter zines em tamanho-revista naquela época, pois o mais viável era o formato A-5.

2. Estes zines estarão também para serem simuladamente folheados como zines na plataforma ISSUU, além de figurar nesta prestigiada Marca de Fantasia – pois nela, pode-se visualizar melhor página a página para serem baixadas em pdf e com visualização mais facilmente detalhada do que na ISSUU.

3. Gazy Andraus é pós-doutorando pelo PPGACV da FAV-UFG (Bolsista CAPES-PNPD), Doutor pela ECA-USP, Mestre em Artes Visuais pela UNESP, Pesquisador e membro do Observatório de HQ da USP, Integrante do grupo de pesquisa CRIA_CIBER (FAV/UFG) e Poéticas Artísticas e Processos de Criação (UFG). Também publica artigos e textos no meio acadêmico e em livros acerca das Histórias em Quadrinhos (HQs) e Fanzines, bem como também é autor de HQs e Fanzines na temática fantástico-filosófica.
E-mail: gazyandraus@ufg.br,
Sites e blogs: http://tesegazy.blogspot.com/, http://classichqs.blogspot.com/ , http://conscienciasesociedades.blogspot.com/


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