História

Maria: a irresistível força do humor

Maria surgiu em 1975 no bojo da cultura alternativa, como um grito de resistência a um contexto de exceção. Embalou-se na efervescência política e social do país, assemelhando-se à charge no início de sua criação. As tiras da personagem traziam o apelo à liberdade de expressão, a crítica às desigualdades sociais e aos costumes conservadores arraigados. Publicou-se primeiro nos jornais diários e suplementos paraibanos, de onde partiu para a edição de revistas, fanzines e álbuns independentes.


Primeira tira de Maria, de junho de 1975

O percurso de criação de Maria não foi, de todo modo, “um longo rio tranquilo”. Sua produção foi permeada por sobressaltos, teve períodos de intensa produção nas décadas de 1970 e 1980 e períodos de exclusão, causados por mudanças estruturais nos jornais e pela limitação do meio independente.

O jornal sempre foi o campo de atuação ideal para as tiras, onde nasceram e se desenvolveram como linguagem. A publicação diária promove o amadurecimento da personagem e do autor, e a interação com o público. As publicações independentes viriam a ser um complemento aos jornais, um recurso para ampliar o universo das tiras, ao registrar em antologias e compilações boa parte de sua produção.

Com a publicação diária nos jornais paraibanos, Maria pôde se aprimorar no aspecto gráfico e na concepção do humor, passando dos fatos políticos imediatos ao humor intemporal, da contestação política explícita às contradições do quotidiano. Essa transformação no perfil da personagem foi também um reflexo das mudanças no país, com a abertura política e a redemocratização.

Nesse novo ambiente, que teve sua eclosão no início da década de 1980, novas questões viriam à tona. Outros temas se tornariam o enfoque favorito de Maria, como a luta das minorias por afirmação, a solidão nos centros urbanos, os preconceitos diversos. Maria tornou-se uma personagem em mutação, tendo como fio condutor a inquietação frente aos valores estabelecidos.


Engajamento de Maria nas questões de gênero

Se por um lado o jornalismo diário tem restringido significativamente – quando não extinguido – o espaço para as tiras, o meio independente se configura quase sempre como um pequeno círculo de aficionados que, ainda que fiel e apaixonado, não proporciona a visibilidade que projete o autor e a personagem no campo profissional.

A partir de meados dos anos 1990, a internet abriu um novo espaço para as tiras, primeiro em sites pessoais de autores e editores independentes, em seguida por meio de blogs e perfis em redes sociais. A comunicação ampla e imediata proporcionada pelo meio tem contribuído para o surgimento de novos autores e estimulado a criatividade do gênero.

No período de oclusão, para manter viva sua memória e o contato com o público, foi editado em 1998, pela Marca de Fantasia, o álbum Maria: olhai os lírios do campo, reunindo as tiras da fase mais recente de produção. Lançou-se também a revista Maria Magazine a partir de 2001, reunindo as tiras da personagem e de outros autores.

Mais publicações viriam em datas comemorativas: em 2005 foi lançado o álbum Maria: espirituosa há 30 anos; em 2015 saiu Maria: quarentona, mas com tudo em cima. Pela editora portuguesa Polvo lançou-se em 2015 o álbum Seu nome próprio: Maria! Seu apelido, Lisboa; e em 2017 Maria: a maior das subversões, este retomando um álbum clássico da personagem lançado em 1984 pelo autor.

Os lançamentos portugueses deram prestígio à personagem, que ganhou em 2016 exposição e lançamento no Festival Internacional de BD de Beja, Portugal; no mesmo ano ganhou o prêmio de melhor álbum de tiras de humor no Festival Internacional de BD de Amadora, Portugal, que lhe garantiu exposição e lançamento do segundo álbum na edição de 2017 do festival.

Maria ainda foi tema de livros e vídeos. Em 2015, pela Marca de Fantasia, lançou-se o livro Eu sou Maria: humor e crítica nos quadrinhos paraibanos, da professora do Departamento de História da UFPB Regina Behar, baseado em sua pesquisa de pós-Doutorado realizada na Universidade de São Paulo. No mesmo ano saiu também pela Marca de Fantasia o ensaio Maria strip... arrepiando na saia, da professora Nadja Carvalho, do Departamento de Mídias Digitais da UFPB.

Os vídeos-documentários foram Eu sou Maria, de Regina Behar e Matheus Andrade, realizado em 2015; e Maria por Marias, resultado do trabalho de conclusão do Curso de Comunicação em Mídias Digitais de Karla Karini (direção) e Adelcidio Soares (edição), realizado em novembro de 2017 na Universidade Federal da Paraíba.

Maria continua viva e forte refletindo o momento político contemporâneo. Com a revista Maria Magazine mantém seu canal de veiculação da produção recente, do mesmo modo sendo publicada no site da editora Marca de Fantasia e por meio do presente veículo.

H. Magalhães, 01.2019



Marca de Fantasia
Dezembro de 2021
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