O estudo e a análise da narrativa de ficção científica (FC) foi nos EUA e na Europa uma atividade restrita a um pequeno número de escritores e críticos sem vínculo acadêmico durante várias décadas. Somente a partir dos anos 1970 começou a surgir em alguns daqueles países uma geração de estudiosos, dentro da Universidade, voltados para o exame da FC e de suas relações com outras áreas do conhecimento.

No Brasil, esse fenômeno é ainda mais recente, mas tende também a se ampliar cada vez mais. Uma geração que leu quadrinhos na infância, jogou videogames na adolescência e leu romances de FC na juventude sente-se à vontade para analisar essas obras, que fazem parte de sua história pessoal, e às quais elas retornam agora, munidas de outro tipo de abordagem, e usando uma visão analítica distanciada. O modo acadêmico de análise contrabalança o envolvimento emocional. O pesquisador, sendo um “fã”, tem a possibilidade de analisar que tipo de impacto aquelas narrativas produzem nos fãs, que tipo recepção estética elas preparam e cultivam; em suma, por que motivo aquelas narrativas, e não outras, se tornaram a principal referência de visão-do-mundo em suas próprias vidas. A análise da FC pelo acadêmico-fã é (ou deveria sê-lo) um processo de autoexame, autoconhecimento e autocrítica.

Diacronia, este conjunto de ensaios de jovens estudiosos, faz um balanço de algumas tendências conceituais recentes na FC, dando certa ênfase à influência de movimentos como o cyberpunk e aos conceitos de representação e de simulação.

A multiplicidade de temas e de abordagens desta coletânea aponta, em todo caso, para um dos aspectos essenciais da FC em todos os tempos, o de questionar o que chamamos de “realidade consensual”. Esta não passa, na verdade, do equilíbrio precário entre nossas visões individuais, e para se manter precisa ser compulsivamente checada e confirmada a todo instante, processo no qual os meios de comunicação, a mídia ambiente, tem um papel crucial. E o papel da FC é de certo modo o inverso. Não apenas o de nos dizer que não vivemos nem no melhor nem no pior dos mundos, mas o de revelar simplesmente que não sabemos ainda como é o mundo em que vivemos.

Exerto do prefácio do livro por Braulio Tavares

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