Os super-heróis como apresentados em meados do século XX não existem mais. Sua ingenuidade voluntariosa, sua apologia ao bem e à justiça deram lugar à supremacia da força e à sede de poder. Alguns chegaram mesmo a se converter em maus, como se deu com o jovem Kid Miracleman, o mais novo dos personagens da família Miracleman.

As histórias simplórias do bem contra o mal se transformaram em enredos rebuscados e repletos de referências bibliográficas, quem sabe para dar um caráter mais adulto e verossímil a um mundo em sua gênese fantasioso. Na década de 1960 já tínhamos a trama dramatizada e problematizada de personagens como Homem Aranha e Capitão América. Era uma forma de aproximar o mundo fantástico do mundo real dos jovens leitores da ficção alucinada dos super-heróis. O resultado foi a transformação completa desse universo mitológico, mudando os rumos de um gênero em vias de esgotamento.

A evolução dessa diretriz levou mesmo à própria negação do super-herói, como se vê em Batman, O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, onde um personagem envelhecido e psicótico não distingue mais os limites entre o bem e o mal. Mas, talvez os trabalhos mais complexos em função de sua linguagem, conceito e referências sejam as séries Monstro do Pântano, Sandman, Watchmen e, é claro, Miracleman.

Miracleman, tendo sido criado como Marvelman em substituição ao Capitão Marvel por motivos judiciais, sofreu, da mesma forma, uma série de percalços na sequência de seu desenvolvimento, com interrupções de sua produção. A retomada do personagem pelo roteirista Alan Moore trouxe uma verdadeira renovação aos quadrinhos.

Para Márcio Salerno, Alan Moore, com Miracleman, praticamente inaugurou a tendência do uso de referências intelectuais, populares, artísticas e underground nas HQ adultas, utilizando, em particular, os conceitos do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Miracleman viria a ser o personagem que encarnaria com mais perfeição o mito do Super-Homem. Trata-se aqui não do Superman, personagem de Jerry Siegel e Joe Schuster, mas do mito ariano preconizado por Hitler e o Nazismo, o homem superior, perfeito, de corpo e alma absolutamente sadios.

O propósito de Márcio Salerno com este ensaio é revelar aos leitores o que está por trás da série Miracleman e sua aproximação com o mito nietzscheano. A ideia de que o poder corrompe adquire uma escala superlativa ao se aplicar ao superpoder. É justamente esta a ideia que permeia a criação de Miracleman.

H. Magalhães

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Maio de 2022
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